Cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com a incontinência urinária; fatores culturais, cirurgias e diabetes são algumas das principais causas.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (SOGIMIG), a incontinência urinária é um problema de saúde que atinge milhões de brasileiros, sendo mais prevalente em mulheres do que em homens. Muitas pessoas convivem com a perda de urina diariamente, porém nem todas buscam ajuda médica para resolver essa questão, que pode afetar significativamente a qualidade de vida.
Segundo a American Urological Association (AUA), a incontinência urinária pode ser causada por diversos fatores, como obesidade, tabagismo, gravidez e envelhecimento. A perda de urina pode ocorrer em diferentes situações do dia a dia, impactando nas atividades cotidianas das pessoas afetadas. É importante buscar orientação de um profissional de saúde para obter um diagnóstico preciso e iniciar um tratamento adequado para controlar a incontinência urinária.
Desafios Culturais e Desinformação na Busca por Tratamento da Incontinência Urinária
‘Fatores culturais e desinformação são alguns dos fatores que dificultam a busca pela ajuda médica’, avalia o urologista Cássio Riccetto, supervisor da Disciplina de Urologia Feminina da SBU. Segundo pesquisa conduzida pela SBU e baseada nos dados do Sistema de Informação Hospitalar (SIH) do Ministério da Saúde, foram realizadas um total de 26.054 cirurgias para tratar a incontinência urinária entre 2019 e 2023.
Dessas, 2.892 foram conduzidas por via abdominal e 23.162 por via vaginal. Essa quantidade equivale a 31,7 procedimentos por um milhão de habitantes, valor significativamente menor quando comparado às taxas de países como Estados Unidos e Reino Unido, que reportaram taxas de 571 e 400 cirurgias, respectivamente, por milhão de habitantes durante o mesmo período. Incontinência urinária atinge 45% das mulheres e 15% dos homens.
‘Por ser uma doença que afeta principalmente a qualidade de vida, em vez do tempo de vida propriamente dito, essa condição muitas vezes é colocada em segundo plano em comparação com doenças consideradas mais graves, como as oncológicas e cardiovasculares, que recebem uma prioridade maior no sistema de saúde público em geral’, reflete Riccetto, também membro da American Urological Association (AUA). Segundo Bruno Benigno, urologista do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, a perda de urina, mesmo em pequenas quantidades, não é normal em nenhuma idade, contrariando a crença equivocada de que pode ser parte natural do envelhecimento ou até mesmo pós-gestação.
Para conscientizar sobre a questão, a SBU promove, ao longo do mês de março, mais uma edição da campanha ‘Saia do Molhado’, enfatizando a importância de buscar tratamento para essa condição, muitas vezes negligenciada por meio do uso de medidas paliativas, como fraldas e absorventes.
Tipos de Incontinência Urinária e Suas Características
Segundo Benigno, que também é Membro da American Urological Association (AUA), a incontinência urinária se manifesta em três tipos predominantes. O primeiro é a incontinência urinária de esforço, caracterizada pela fraqueza dos músculos do assoalho pélvico, incapazes de suportar a pressão gerada por atividades como tossir, espirrar e até mesmo mudar de posição.
Essa condição, que representa 25,7% dos casos, pode variar de leve a grave e afeta tanto homens quanto mulheres, sendo mais prevalente neste último grupo, totalizando cerca de 70% dos diagnósticos. Em seguida, há a incontinência de urgência, identificada pela contração involuntária e súbita da bexiga.
Esse tipo, com uma prevalência de 5,3%, pode ocorrer em indivíduos saudáveis, mas também está associado a condições neurológicas, cistites crônicas e uso de determinados medicamentos, como antidepressivos e para perda de peso. Por fim, há a incontinência urinária mista, abrangendo 9,1% dos casos, que combina características dos dois tipos anteriores.
Sintomas e Fatores por Trás da Incontinência Urinária
A incontinência urinária de esforço se caracteriza por uma perda pontual de urina, ocorrendo exclusivamente durante o esforço físico, como o próprio nome indica. Como explica Riccetto, ‘a bexiga tem a capacidade de conter entre 300 e 600 mililitros de urina, permitindo que uma pessoa sem incontinência urinária vá ao banheiro de quatro a cinco vezes por dia’.
Por outro lado, a incontinência urinária de urgência ocorre quando a pessoa experimenta um desejo súbito e incontrolável de urinar, levando-a a correr para o banheiro e, muitas vezes, perder urina no meio do caminho. Esse sintoma indica um mau funcionamento da bexiga, que passa a se contrair de forma desordenada e independente da vontade da pessoa.
Como destaca o especialista, ‘a incontinência urinária de urgência, embora menos comum que a de esforço, tem um impacto significativo na qualidade de vida, pois a pessoa não consegue evitar esses episódios imprevistos’.
Principais Fatores de Risco e Prevenção da Incontinência Urinária
A idade, segundo Benigno, é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da incontinência urinária. Pessoas mais velhas, especialmente aquelas com mais de 60 anos, apresentam um risco aumentado, independentemente do sexo.
É que, de acordo com Riccetto, pessoas nessa faixa etária enfrentam uma diminuição na eficácia do mecanismo valvular localizado no canal da uretra. Isso ocorre devido ao enfraquecimento da musculatura e do tecido de colágeno que sustentam essa região – situação associada ao processo de envelhecimento.
No sexo masculino, as cirurgias de remoção da próstata para tratar o câncer aumentam em 90% as chances de desenvolver incontinência urinária, principalmente a de esforço. Cerca de 5 a 10% desses homens podem enfrentar algum grau de perda urinária como resultado.
‘Entre outros fatores que causam a incontinência estão diabetes, hiperplasia prostática benigna [que é o aumento da glândula prostática sem relação com câncer] e tratamentos oncológicos, como radioterapia. Cirurgias pélvicas, incluindo procedimentos de reconstrução, também são identificadas como causas potenciais da condição’, acrescentou Benigno.
Riscos e Tratamentos da Incontinência Urinária
Os principais riscos e consequências da incontinência urinária, como destacado por Benigno, são multifacetados e impactam significativamente a qualidade de vida das pessoas afetadas. O aspecto social é um dos mais evidentes, pois a condição pode levar ao isolamento social, reduzindo a confiança nas interações e causando dificuldades nos relacionamentos interpessoais.
Além disso, o contato constante da pele com a urina pode levar a inflamações na região genital, aumentando ainda o risco de infecções urinárias recorrentes. ‘Essas complicações de saúde representam preocupações adicionais para aqueles que sofrem de incontinência urinária, exigindo cuidados extras e tratamento adequado’, frisa o especialista.
Existem várias abordagens para o tratamento da incontinência urinária, que dependem de mudanças de estilo de vida a intervenções médicas mais invasivas, dependendo da gravidade e da causa do problema:
1. Mudanças de hábitos: isso inclui controlar a ingestão de líquidos ao longo do dia, urinar regularmente, parar de fumar, evitar o consumo de produtos com cafeína, tratar a prisão de ventre e adotar um estilo de vida mais ativo, abandonando o sedentarismo.
2. Medicamentos: principalmente para casos de bexiga hiperativa, podem ser prescritos medicamentos para ajudar a controlar os sintomas. 3. Exercícios para o assoalho pélvico: os exercícios de Kegel, por exemplo, são uma técnica comum que visa fortalecer os músculos do assoalho pélvico, melhorando o controle da bexiga.
4. Dispositivos médicos: isso pode incluir o uso de marcapassos implantados nas raízes nervosas, sondas intermitentes ou dispositivos de suporte uretral para ajudar no controle da bexiga. 5. Estimulação elétrica: este método envolve o uso de corrente elétrica para estimular os músculos do assoalho pélvico, o que pode melhorar o controle da bexiga em alguns casos.
6. Toxina botulínica na bexiga: em situações em que medicamentos e fisioterapia não foram eficazes, a toxina botulínica pode ser injetada na parede da bexiga para ajudar a relaxá-la e reduzir as contrações involuntárias.
7. Cirurgia: em casos graves e persistentes de incontinência urinária, pode ser uma opção para corrigir problemas anatômicos, como o prolapso de órgãos pélvicos ou a incontinência de esforço.
Fonte: @ Estadão
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