Investidores recuam mais sob risco de nova intervenção na Petrobras, pressionados por corte de gastos, medidas fiscais e fluxo de capital, temor à entrada de dólares gringos no país.
Na semana passada, o Ibovespa fechou em queda de 3,01%, o que leva a uma pergunta: qual é o destino do índice de preços da bolsa de valores brasileira? Para alguns, a reação dos investidores parece ser um reflexo da instabilidade do mercado de ações no país. Na verdade, o que acontece é que governos e investidores têm agendas diferentes, e a reação de investidores não é prioridade em nenhum deles.
Em outras palavras, o governo não se preocupa tanto em manter a confiança dos investidores quanto em seguir seus próprios planos. Isso é o que aconteceu na semana passada, quando o Ibovespa fechou em queda de 3,01%. Mas o governo não se incomodou em tentar levantar o moral da bolsa brasileira. Na verdade, o que o governo fez foi ignorar a reação dos investidores e seguir em frente com seus planos.
No desastre do pacote de contenção de gastos, Ibovespa sente o impacto de medidas fiscais inconsistentes
A queda de braço no entorno do palácio presidencial culminou no desastre do anúncio do pacote de corte (ou contenção, segundo interpretações divergentes) de gastos recentemente divulgado. A apresentação das propostas de reforma da renda foi o grande protagonista do momento, enquanto as medidas fiscais pareceram inconsistentes e incoerentes. Na tarde desta quarta-feira (4), o anúncio inesperado de que o governo pretende promover trocas no conselho da Petrobras foi um golpe para a bolsa, tornando o tímido avanço do índice de ações da Ibovespa irrelevante. O Ibovespa encerrou a sessão praticamente de lado, com uma pequena queda de 0,04%, nos 126.087 pontos. Na semana, o índice ainda conseguiu ganhar 0,33%, mas as perdas acumuladas este ano somam 6,04%. Das 86 ações na carteira teórica, 45 fecharam em queda hoje. Com 13,5% de peso na carteira teórica, os papéis da Petrobras determinaram o rumo do índice, transformando o Ibovespa no saldo parco desta sessão.
A ação preferencial da estatal (PETR4, com preferência por dividendos) encerrou o dia em queda de 0,63%, a R$ 39,25, enquanto a ordinária (PETR3, com direito a voto em assembleias) caiu 0,96%, a R$ 42,37. De acordo com a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, o governo deve indicar Bruno Moretti, secretário de análise governamental do ministro Rui Costa na Casa Civil, para a presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Assim, Moretti assumiria a cadeira atualmente ocupada por Pietro Mendes, que, por sua vez, seria indicado para uma diretoria da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O fluxo financeiro do Ibovespa ficou em R$ 16,3 bilhões, em linha com a média diária dos últimos 12 meses. Até o fechamento desta matéria, a Petrobras não havia confirmado a informação ao mercado.
A perspectiva de que o governo possa intervir na gestão das estatais e a frustração que o mercado sente em relação às incertezas fiscais podem piorar a situação. O problema é que investidores odeiam incertezas, especialmente os estrangeiros. E após tantos reveses em 2024, a frustração se reflete nos negócios, entre janeiro e outubro, o fluxo de capital gringo no mercado secundário da B3 está negativo em R$ 33,8 bilhões, o que significa que os estrangeiros estão se desfazendo mais que comprando ativos locais, enfraquecendo a entrada de dólares no país, o que enfraquece o real e, assim, encarece a moeda americana da perspectiva brasileira. No acumulado do ano, o dólar valorizou 24,63% contra o real. Só nesta semana, a alta é de 0,79%, ainda que, na sessão de hoje, a moeda americana tenha cedido 0,13%, em R$ 6,05.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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