Israel prometeu “esmagar e destruir” o Hamas após ataques de 7 de outubro. A BBC verificou as intervenções militares e prisioneiros.
O Hamas voltou a tomar as manchetes internacionais neste mês após uma série de ataques violentos na fronteira com Israel, que resultaram em dezenas de mortes. As autoridades israelenses culpam diretamente o grupo armado palestino pela escalada do conflito e prometem retaliar com força total.
Considerado uma organização extremista islâmica pelo governo israelense, o Hamas tem sido alvo de constantes ataques aéreos nas últimas semanas. Mesmo assim, os líderes do grupo afirmam que não vão recuar e prometem continuar lutando pela libertação do povo palestino. A tensão na região atingiu níveis alarmantes, com ambos os lados se preparando para um possível confronto de grandes proporções.
Febre do Hamas durante a Guerra
Na guerra brutal que se seguiu, pelo menos 33 mil palestinos foram mortos, segundo o Ministério da Saúde gerido pelo Hamas, e grande parte de Gaza foi destruída. Israel afirma ter matado milhares de combatentes do Hamas e desmantelado grande parte da vasta rede de túneis que o Hamas tem usado para realizar ataques.
A BBC Verify, o serviço de verificação da BBC, vasculhou declarações públicas e postagens nas redes sociais das Forças de Defesa de Israel (FDI) e avaliou as evidências por trás das declarações de Israel.
Estratégia das Intervenções Militares do Hamas
Antes de 7 de outubro, acreditava-se que o Hamas tinha cerca de 30 mil combatentes em Gaza, de acordo com relatórios que citam comandantes das FDI. Muitas das principais figuras políticas do Hamas, como Ismail Haniyeh, amplamente considerado o líder geral do grupo, vivem no exterior.
Mas acredita-se que grande parte da sua estrutura de liderança militar esteja dentro de Gaza. Em um comunicado recente, as FDI afirmaram ter matado cerca de 13 mil combatentes do Hamas desde o início da guerra, embora não tenham dito como calcularam esse número. Israel também publica os nomes de líderes individuais do Hamas que afirma terem sido mortos.
Um total de 113 pessoas foram nomeadas desta forma desde outubro, sendo que a imensa maioria delas foi dada como morta nos primeiros três meses do conflito. Neste ano, em comparação, o exército israelense não havia comunicado oficialmente a morte de qualquer líder importante do Hamas em Gaza até março.
Liderança Militar do Hamas em Xeque
Em 26 de março, as FDI afirmaram ter matado Marwan Issa, vice-comandante da ala militar do Hamas. Considerado um dos homens mais procurados de Israel, ele seria o líder mais importante do grupo que foi morto desde o início da guerra. Os Estados Unidos disseram acreditar que ele foi morto, mas o Hamas não confirmou.
As FDI publicam nomes de indivíduos que dizem serem líderes do Hamas que foram mortos, mas não é possível verificar se são membros do grupo. Um dos citados nessa categoria foi Mustafa Thuraya, que trabalhava como jornalista freelance no sul de Gaza quando o seu veículo foi atingido em janeiro. Também encontramos nomes duplicados na lista, que descontamos do total.
Estratégias de Prisioneiros e Declarações do Hamas
Fora de Gaza, o líder político do Hamas, Saleh al-Arouri, morreu em uma explosão no subúrbio de Dahiyeh, no sul de Beirute, em janeiro. Israel é amplamente considerado responsável por esse ataque. No entanto, especialistas com quem conversamos disseram que muitos dos líderes de destaque do grupo em Gaza, incluindo Yahya Sinwar, ainda estão vivos.
‘As FDI não conseguiram chegar ao alto escalão da liderança do Hamas’, diz Mairav Zonszein, analista de assuntos sobre Israel e Palestina do Grupo de Crise Internacional. ‘Tanto a nível simbólico de chegar aos principais líderes, como também a nível de substituição do Hamas como detentor do território, isso é algo que não foi capaz de alcançar’, acrescenta Zonszein.
Busca pelos Prisioneiros
Segundo dados oficiais israelenses, 253 pessoas foram feitas reféns no dia 7 de outubro.
Destas: 109 foram libertadas como parte de trocas de prisioneiros ou em acordos separados 3 foram resgatadas diretamente pelo exército israelense em operações militares Os corpos de 12 reféns foram recuperados, incluindo três que as FDI admitiram ter matado em uma de suas operações O refém vivo mais jovem confirmado tem 18 anos e o mais velho 85.
Dos 129 reféns restantes, Israel afirma que pelo menos 34 estão mortos. O Hamas diz que o número de reféns mortos é maior – resultado dos ataques aéreos das FDI. Mas não é possível verificar essas afirmações. Os dois reféns mais jovens nos ataques do Hamas foram Ariel e Kfir, que tinham 4 anos e 9 meses, respetivamente, no momento em que foram raptados.
Competição pelos Serviços de Verificação
Como parte da sua promessa de eliminar o Hamas, Israel prometeu destruir a extensa rede de túneis que o grupo utiliza para transportar mercadorias e pessoas. ‘Pense na Faixa de Gaza como uma camada para os civis e depois outra camada para o Hamas.
Estamos tentando chegar a essa segunda camada que o Hamas construiu’, disse o porta-voz das FDI, Jonathan Conricus, em outubro. O Hamas disse anteriormente que a sua rede de túneis se estende por 500 km, embora não haja forma de verificar isso de forma independente. Perguntamos às FDI quantos túneis e que proporção da rede total de túneis eles haviam destruído.
Na resposta, eles afirmaram que as suas forças tinham ‘destruído grande parte da infraestrutura terrorista em Gaza’. As FDI ocasionalmente mostraram evidências de túneis do Hamas que descobriram. Por exemplo, em novembro, divulgaram imagens de parte de uma rede de túneis por baixo do hospital al-Shifa, na cidade de Gaza, que, segundo as FDI, estava sendo usado como centro de comando.
Consequências das Intervenções Militares
Os objetivos de guerra de Israel tiveram um custo imenso para os palestinos em Gaza. Mais de 33 mil pessoas foram mortas, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas. A última análise demográfica do ministério, de 5 de abril, indica que mais de 70% dos mortos eram mulheres e crianças.
Muitos outros foram deslocados e ficaram desabrigados enquanto as forças israelenses tentavam destruir a infraestrutura do Hamas. Mais de 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas internamente, segundo as Nações Unidas. As áreas residenciais ficaram em ruínas, as ruas movimentadas foram reduzidas a escombros, as universidades foram destruídas e as terras agrícolas foram duramente afetadas.
Mais de 56% dos edifícios de Gaza foram danificados ou destruídos desde 7 de outubro, de acordo com a análise de dados de satélite. Seis meses desde o início da guerra, ainda não está claro se Israel atingiu os seus objetivos.
Com informações adicionais de Rob England, Maryam Ahmed, Jamie Ryan e Emma Pengelly.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
Comentários sobre este artigo