Fugitivos negros buscavam asilo religioso em cidade espanhola do sul dos EUA, onde encontravam direitos e proteções em santuário religioso.
No mês de novembro de 1621, um navio chegou ao porto de Salvador, no Brasil, trazendo consigo várias pessoas que haviam sido vítimas da escravidão. Entre os passageiros estavam homens, mulheres e crianças, todos em busca de uma nova oportunidade de vida.
Após anos de sofrimento e escravização, essas pessoas finalmente encontraram refúgio em terras onde o povo anteriormente escravizado poderia recomeçar e construir um futuro melhor para si e suas famílias. A chegada desses sobreviventes marcou o início de uma nova jornada, repleta de desafios e esperanças.
Os Viajantes Fugitivos e a Busca por Liberdade
Os viajantes eram pessoas que fugiram da escravidão enquanto viviam em uma plantação de propriedade britânica nas Carolinas, ao norte do país. Após desembarcarem, seguiram para o centro da cidade em busca de liberdade.
‘Eles foram se apresentar diante do governador de Saint Augustine’, disse Jane Landers, professora de história na Universidade Vanderbilt e diretora do Arquivo Digital das Sociedades Escravizadas, que documenta a história dos africanos escravizados e dos seus descendentes.
‘Eles lhe explicaram que estavam pedindo sua proteção e que queriam se tornar católicos’, contou a especialista. O grupo de viajantes tinha ouvido falar que aquele assentamento espanhol era um santuário religioso e oferecia liberdade a qualquer povo anteriormente escravizado que quisesse se converter ao catolicismo.
Perigos por Mar e Terra na Jornada para Liberdade
A jornada para a liberdade poderia levar mais de uma semana e era repleta de perigos. Os fugitivos navegaram por pântanos e águas costeiras cheias de desafios. Jacarés, panteras e cobras venenosas os aguardavam no deserto. Nas cidades e vilas, os caçadores de escravizados rondavam as ruas. O sol era implacável, e muitas vezes era difícil encontrar comida e água. Ainda assim, para muitos, a promessa de liberdade valia o risco.
Às vezes, os nativos americanos Yamassee que viviam na Geórgia e nas Carolinas ajudavam os fugitivos, criando um precursor da ‘Ferrovia Subterrânea’ (a rede subterrânea organizada no século 19 para ajudar os escravizados a escapar das plantações do sul).
A Fé e os Direitos na Cidade Espanhola
O assentamento espanhol de Saint Augustine era visto como um santuário religioso que oferecia asilo religioso e direitos e proteções a qualquer povo anteriormente escravizado que se convertesse ao catolicismo. A política também desempenhou um papel na visão diferente da escravatura na Espanha, que precisava de mais pessoas para defender seu território contra os britânicos.
Os espanhóis baseavam a escravidão em leis romanas antigas, onde qualquer pessoa poderia ser escravizada se tivesse sido condenada ou capturada em guerras. As pessoas escravizadas tinham direitos e proteções, como o direito de serem tratadas com humanidade e de recuperar sua liberdade por meio do serviço militar ou da conversão ao catolicismo.
Protegendo e Defendendo Direitos Civis
Em 1693, Saint Augustine era uma pequena cidade frequentemente atacada por piratas e tropas britânicas. O governador construiu um posto avançado ao norte chamado García Real de Santa Teresa de Mose. Os negros livres que viviam na cidade desfrutavam dos mesmos direitos que os seus vizinhos europeus, protegendo sua nova casa.
Os soldados negros e nativos se sentiram obrigados a defender o seu território e seus direitos, que sabiam que seriam melhor protegidos sob o domínio espanhol do que sob o domínio britânico. O Forte Mose logo se tornou um símbolo de liberdade e integração em Saint Augustine, mostrando a importância da proteção dos direitos civis e da igualdade.
Continua…
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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